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Um raio caiu bem perto, a luz tremeluziu, apagou e voltou em seguida.
Naquele instante, soube que Richard estava ali. Seu corpo estremeceu de antecipação, e apertando o roupão contra o corpo, virou-se para a porta.
— Por que está aqui?
— Honestamente, não sei.
Pelo menos, era sincero, pensou Laura.
— Sente-se — convidou.
Ele deu um passo na direção dela e parou.
— Meu Deus, está gelado aqui dentro — disse, indo até a lareira e colocando mais lenha.
— Não estou com frio.
— Está úmido. Vai acabar doente. E talvez a luz acabe. Richard acendeu um fósforo e a pequena chama iluminou suavemente seu rosto.
Laura viu as marcas no pescoço.
— Não precisava fazer isso.
— Eu sei.
— Saia, Richard.
— Já está cansada da minha companhia?
— É claro que não. Mas sei que não é seguro. — Ela suspirou.
— Você nem imagina o quanto eu desejo que me toque. Mas quero mais além de estar em seus braços — confessou, com sinceridade. — Quero tudo de você.
Ele ficou parado, segurando um pedaço de madeira que ia colocar nas chamas.
— Não quero apenas o homem nas sombras, a voz que me faz sentir viva quando diz meu nome. Não apenas o corpo, que não me deixa tocar por completo. — Ela parou, como se precisasse de coragem. — Já tive a metade do amor e da atenção de um homem antes. Já tive as migalhas... — Laura engoliu em seco, antes de continuar: — Não vou aceitar isso de novo.
Quando ele não respondeu, o coração de Laura apertou-se e a dor foi quase insuportável. Por fim, ela falou, lentamente:
— Não poderemos ter nada, se não confiar em mim. Tudo parece temporário, como se estivéssemos usando um ao outro.
Por um longo momento, apenas fitou-a, travando uma batalha interna entre o que desejava e o que não podia ter. Richard ergueu a mão para ela e convidou:
— Venha para mim, Laura. Enquanto ainda tenho forças. — A mão dele tremia. — Venha ver o monstro que deseja que a toque.
— Você não é um monstro. Laura levantou-se, olhando para a mão estendida no ar. Os dedos de Richard tremiam, e ela apressou-se para ele, segurando-lhe a mão e apertando-a contra o rosto.
— Oh, Laura — gemeu Richard. Ela puxou-o para a sombra.
— No escuro — sussurrou —, somos iguais. Não, shh... Não sou a antiga rainha da beleza. Você não tem cicatrizes. Somos apenas duas pessoas, Richard. Não existe nada além disso.
— Não podemos ficar aqui, e na luz...
— Na luz somos duas pessoas, cada qual com suas imperfeições. — Ela ergueu o olhar, vendo a silhueta das cicatrizes que ele escondera por tanto tempo, mas não com nitidez. — Me mostre.
Richard respirou fundo, sabendo que aquele era o momento em que perderia tudo que tinha conseguido e que tanto desejava. Virou-se para o fogo, lentamente, levando-a consigo.
A luz espalhou-se sobre o rosto de Richard, que se encolheu, num gesto instintivo, embora não deixasse de fitá-la. Ele esperou. Esperou pela repugnância, pela rejeição no rosto de Laura.
Mas nada aconteceu.
Laura observou-o, lentamente, sentindo a tensão que o dominava, como se esperasse vê-la sair correndo dali. Mas não iria a lugar algum. Ele encontrara coragem para mostrar-se, e não iria decepcioná-lo. Aquele momento significava muito para ela, revelando-lhe coisas que Richard não conseguira dizer. E aquela confiança era o maior presente que poderia receber.
Ele ainda era um homem muito bonito. Só de fitar aqueles lindos olhos azuis, iguais aos da filha, o coração dela disparou.
— Seus olhos são maravilhosos — disse ela. — E parece que esperei décadas para vê-los.
Por um instante, ela apenas saboreou o momento. Então, seu olhar voltou-se para as cicatrizes. Quanta dor ele devia ter sofrido, imaginou, tocando com a ponta dos dedos as marcas que tanto o faziam sofrer. Ele fechou os olhos, respirando pesadamente.
Eram como marcas das garras de um animal selvagem. Duas tinham cortado a testa, próximo aos cabelos, uma descia pela sobrancelha. Havia outra no canto de uma pálpebra, perto do olho. Mais uma descia pelo rosto, até a mandíbula, continuando pelo pescoço, até desaparecer dentro da camisa.
Richard continuava imóvel, como uma estátua de pedra, os braços ao lado do corpo, os punhos cerrados. O coração de Laura quase se partiu ao pensar nos anos de solidão, acreditando que a aparência o impedia de ser amado, esquecendo o ato de coragem que provocara as marcas.
— Você sobreviveu a tudo isto — sussurrou ela, surpresa e emocionada.
Ele fitou-a nos olhos, vendo que se aproximava ainda mais.
— Laura...
— Shh. — A mão dela deslizou para a nuca de Richard, puxando-o para mais perto. Ela beijou de leve as marcas na testa, nos olhos, no pescoço, ternamente, abrindo um a um os botões da camisa e continuando a beijar as cicatrizes que atravessavam o ombro.
Ele gemeu, agarrando-a pela cintura e tentando afastá-la.
— Laura, não!
Ela abraçou-o, compreendendo o medo e a ansiedade.
— Por favor, Richard, não me afaste. Você suportou tanta dor. Agora são apenas marcas na memória. — Ele sacudiu a cabeça, mas Laura continuou beijando cada cicatriz, e os lábios dela eram como um bálsamo. — Não vejo deformidade. O que vejo são sinais de sua coragem. Ferimentos de uma guerra à qual sobreviveu.
O coração de Richard batia forte, e ele deslizou a mão pelas costas macias, enterrando os dedos nos cabelos sedosos. Com um gesto brusco, inclinou a cabeça dela para trás.
— Não quero sua piedade.
Os lábios dela curvaram-se num sorriso, antes de fitá-lo diretamente.
— Minha maravilhosa fera — disse, num tom baixo e sedutor. — A última coisa que sinto por você é piedade.
— Há muito mais — murmurou Richard. — Minhas costelas, meu quadril... a perna.
— Eu não me importo. Quando vai entender isso?
— Eu nunca... Isto é, nenhuma mulher me tocou... Ela sorriu, suavemente.
— Nossa... é quase virgem, então?
Ele riu baixinho, mas ficou imóvel quando Laura encostou o corpo ao dele. Sentia cada curva, os seios macios sob o roupão, percebendo que ela estava nua sob o tecido fino.
Cada célula de seu corpo vibrava, clamava por Laura. Murmurou o nome dela, as mãos percorrendo o corpo perfeito.