Uma grande frustração se apossou de Nora. Não que
tivesse ficado excitada ao ser beijada por Bill Hammond. Para ser franca, o
simples fato de se lembrar daquela boca molhada sobre a sua causava-lhe um
embrulho no estômago. Mas, afinal de contas, fora o único homem disponível que
encontrara.
Passando a mão pela testa, ajeitou os cabelos e
sentiu como se seu cérebro clareasse um pouco.
— Onde é que eu estava com a cabeça?
— Isso eu gostaria de saber, Nora.
— Está bem... Bill foi um erro.
— Concordo. A pergunta é: por que estava fazendo
aquilo? Nora respirou fundo antes de responder:
— Bem, eu não... Tinha muita escolha, entende? Mike
fez que não.
— O que será, em nome de Deus, que está tentando
dizer?
— E simples: você arruinou o plano.
— Que plano?
— Tudo culpa sua — repetiu. — Provocou toda essa
confusão. Portanto, agora está em dívida comigo.
— Eu a livrei de um canalha.
— Isso é verdade. — Nora estreitou os olhos. — E vê
se fica parado!
— Não estou me movendo.
— Ei, rapaz, isso não é nada bom. Está rindo de mim?
Mike ergueu ambas as mãos num gesto de rendição e meneou a cabeça, disfarçando
o riso.
— De jeito nenhum.
— Tem de prometer que vai me ajudar.
— De que maneira?
— Vou lhe dizer depois que prometer me ajudar.
— Não faço promessas no escuro.
— Mas está em dívida comigo.
— Deixe de dizer bobagem.
— Então, prometa.
Mike olhou ao redor. A maioria dos convidados se
encontrava no interior do salão, mas não sabia por quanto tempo ainda. Nora
continuava cambaleante, e seus olhos azuis mostravam-se um pouco mais nebulosos
devido aos vários copos de margarita que ingerira. Além do mais, parecia que
estava disposta a permanecer ali discutindo aquele assunto até o amanhecer.
Desse modo, Mike concluiu que o melhor era prometer, fosse lá o que fosse que
ela estivesse querendo. Em seguida, poderia colocá-la no carro e levá-la
embora. Talvez, quando ficasse sóbria, não se lembrasse de nada.
— Está bem. Prometo. — Segurando-a por um braço,
conduziu-a ao estacionamento.
Nora se desvencilhou dele.
— Oh! — Piscou e em seguida sorriu. — Bem, assim está
melhor. — Tocou-lhe o peito com um dedo. — Você é um príncipe entre as marés...
Nenhum... Príncipe entre... Príncipes!
— Sou eu. Príncipe Mike.
Tomando-lhe a mão, tentou não pensar na inesperada
onda de calor que o atingiu com aquele simples toque. Havia muito não
experimentava nada parecido. Na realidade, poderia apostar que seu medidor de
luxúria estava quebrado. Mas, ao que tudo indicava, não estava, não.
Sim, era melhor levá-la para casa. Melhor para ambos.
Nora se achava muito embriagada para que pudesse ter aquele tipo de pensamento
em relação a ela.
— Agora, irei levá-la antes que se meta em mais
confusão.
— Não me meti em nenhuma confusão, Mike.
— Não era o que parecia.
— Pensa que foi fácil para eu flertar com todo o
mundo no salão? Que foi fácil fingir estar interessada em como Adam Marshal
conserta um motor? Ou olhar fascinada enquanto Dave Edwards descrevia suas
manobras de Jet Sky pela quinta vez? — Respirou fundo. — E isso sem
contar as inúmeras vezes que tive de ouvir o prefeito praticar seu discurso.
— Parece terrível.
— Você nem ao menos pode imaginar.
— Mas por que precisou fazer tudo isso?
— Porque estou com vinte e oito anos, e a criança que
cuidei como babá se casou hoje.
— E isso significa...
—... Que, a menos que eu tome alguma atitude,
permanecerei solteirona.
— Você está louca? — Mike fitou-a, com dureza.
Todas as curvas do corpo feminino estavam muito
delineadas. Os olhos azuis flamejavam de encontro à luminosidade amarelo-pálida
projetada pelos lampiões, e os cabelos cintilavam como ouro.
— Louca? Quem sabe? Mas é muito pior do que isso,
Mike. Sou a última de uma raça agonizante. Um dinossauro... Um... O que mais
está extinto?
— Do que está falando?
— Eu sou virgem!
— Virgem?
Bem, agora enfim conseguira chamar sua atenção. Mike
deu um passo instintivo para trás, como se tentasse manter uma distância segura
entre os dois.
— Fale um pouco mais alto. Não acredito que as
pessoas no salão tenham conseguido escutar. — Ela riu, estudando a expressão
dele. — Veja só esse pavor todo. Os homens, sem exceção, reagem a uma virgem
como um vampiro à luz do sol.